A Gioconda Felina

“Quero ficar no teu corpo/ Feito tatuagem/ Que é pra te dar coragem/ Pra seguir viagem/ Quando a noite vem.” (Chico Buarque. Tatuagem)

Fãs,

Vovó pegou um papel em branco, desenhou, ela mesma, o rosto do Mario Grey (meu tio) e foi até o tatuador: “Põe esta cara no meu braço!” E lá ficou. Lá está a segunda cabeça do Mario Grey, o rei de Jacarepaguá. Podem agora as rebeliões humanas, caninas ou mesmo da plebe felina decapitá-lo que ele tem uma cabeça reserva no braço da vovó. Vovó é como Leonardo Da Vinci e tem agora sua Gioconda felina no braço: ela criou o Grey, criou o desenho, recriou o seu braço. Ele acha que o braço da vovó é como um espelho, fica se olhando e diz: “o bom é que nesse espelho nunca envelheço!” Grey gostou tanto da obra de arte que já pensou em pedir para vovó cortar o braço para que seja emoldurado e exposto na sala da casa. Assim, todos que o visitarem poderão ver que belo quadro e, artistas de todo mundo virão estudar aquela face felina. Teóricos de arte levantarão teorias: “No desenho do Grey há seis bigodes, sendo que cada um representa um pecado capital. Porém, os pecados capitais são sete! E os bigodes são seis, pois os felinos não consideram a gula um pecado!” E outros retrucarão: “Mas por que a preguiça continua ali?” E terão novas teorias e explicarão que “seis é o primeiro número perfeito visto que os seus divisores próprios (1, 2 e 3) somam 6, isso denota que Grey é um gato perfeito.” Haverá também aqueles que dirão que o grande sentido da obra não está em seus bigodes, mas nas linhas abertas do traço que representam a abertura do mundo para a felinidade, para novos conceitos, para o futuro!” E Grey, do alto das escadas de sua casa, ronronará feliz com a apreciação de seu retrato máximo. Feliz como a moça pintada por Da Vinci ficou, ao suscitar tantos debates, por simplesmente estar estampada num quadro.

Ass.: Borges, o gato – @borgesogato