A profissão de Deus

Fãs,

Quando criança, há 2 anos atrás, ouvi falar da profissão de Deus. Vovó me disse, pois são sempre as avós que gostam de falar de Deus, que Deus criou o sábado para descansar e que antigamente sábado era o dia de dormir e não o domingo. Fez isto, Deus, pois estava muito cansado de construir o mundo. Fiquei logo com a impressão que Deus era um pedreiro ou até mesmo um engenheiro ou um arquiteto que estava ali a projetar e edificar o mundo. Depois, li em alguns livros que Deus era carpinteiro, em outros li que era pescador. Com o tempo, resolvi formular minhas próprias histórias sobre Deus. Imaginei que a profissão de Deus era a de roteirista, pois o mundo não era algo construído com tijolos e madeiras, mas com palavras. Tanto que Deus dizia: “Haja luz” e havia luz. Ou seja, vivemos em um mundo totalmente oral e não em um mundo de concreto. Deus havia roteirizado tudo, escrito cada personagem e agora o filme acontecia e cada personagem seguia seu destino traçado. Pois ontem, estive novamente pensando e já não acho também que Deus seja roteirista, muito menos arquiteto. Pois é muito estranho se dizer: “esta é a profissão de Deus.” Para mim, ele, por ser um Deus-Gato, veio monumentar os vagabundos e não esta ou aquela profissão. Deus é um desprofissionalizado, um amador. O que fez, fez pela diversão, pela beleza de fazê-lo. Agora resolveu deitar-se sobre o mundo e dormir, parece até que não está ali, é silencioso. Vez por outra, acorda e dá uma patada no globo, as coisas se agitam pra lá, pra cá, ele se diverte, mas rapidamente se cansa e volta  a dormir.

Ass.: Borges, o gato – @borgesogato