– É aqui a casa do Borges?
– Que Borges?
– Não sei… só diz aqui: Borges, o gato.
– Aaaaah… qual o número da casa que está aí?
– 8!
– Ah, tá. Essa mesmo.
– Quem é esse Borges? Ele é um gato mesmo?
– Acho que é. Tem um gato branco morando lá.
– Posso ir entregar a carta em mãos, aí aproveito pra ver. Sempre trago cartas pra cá e acho interessante, pois é o único gato que já vi receber cartas e encomendas.
– Vai lá então, é a penúltima casa da segunda direita.
—
– Ô de casaaaaaaa.
– Sim.
– Encomenda para o seu Borges. É o senhor?
– Não, não, é o meu filho.
– Ah, posso conhecê-lo.
– É aquele que tá te olhando ali de cima, da varanda.
– Ah, o gatinho?
– Isso.
– E ele lê?
– Lê e escreve, é um poeta.
– Jura?
– Claro!
– E todas estas cartas que sempre trago são mesmo pra ele?
– Sim.
– Que interessante. Sabe de uma coisa?
– O quê?
– O gatinho já recebeu mais cartas que eu. Eu entrego cartas mas nunca recebi uma.
– Não?
– Só contas pra pagar! Nada assim como estas encomendas que o Borges recebe.
– De quem é esta, posso ver?
– Rita Matufugi.
– Ah, a tia Rita.
– É sua tia?
– Não, é dele.
– Ah, é sua irmã?
– Não, não… tia é só modo de dizer.
– Ah, tá.
– Mas o Borges pode te escrever uma carta, já que você nunca recebeu.
– Jura?
– Claro.
– E quando vai ser isso?
– Te entrego a carta quando você trouxer a próxima correspondência .
– Obrigado, fico muito agradecido.
– Que isso, prazer.
– Aqui está, senhor. É só assinar.
– Até.
– Até.
E nas caixas da tia Rita estavam comidas, um travesseiro, presentes para mim e até para a minha mãe. Além de tudo isso, estava a amizade de um carteiro que nunca havia recebido cartas.
Ass.: Borges, o gato – @borgesogato

