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De primogênito pra caçula

Fãs,

Pessoa hoje veio esclarecer suas primeiras dúvidas existenciais comigo:

– Irmão, eu não entendo essa coisa de macho e fêmea…

– Pessoa, macho é quem tem pinto, mulher é que tem perereca.

– Mas eu nem sabia que bichos como nós tinham animais de estimação.

– Não, não é isso, são nomes para chamar os…\

– Mas que diferença faz?

– Nenhuma, você vai ser castrada.

– O que é isso?

– Melhor você só descobrir na hora.

– Huuum… E por que me chamam de Pessoa se eu sou felina?

– Por causa do poeta português, Fernando Pessoa, todos os gatos da nossa família têm nomes de escritores.

– Fernando Pessoa era uma escritora?

– Escritor!

– Mas eu sou fêmea, né?

– Sim, Pessoa, mas o sobrenome Pessoa serve pra homem, pra mulher…

– Como querem que eu seja uma gata normal se me criam de forma tão confusa.

– Pessoa, criada nessa família você estará condenada a ser anormal. Um dia te ensinarei a escrever.

– Escrever? O que é isso?

– É falar por letras, através de rabiscos.

– E pra que serve?

– Pra falar com o mundo.

– O que é o mundo?

– Tudo que há do lado de fora do prédio.

– E tem lado de fora o prédio?

E aí eu percebi que Pessoa era pequena demais para conhecer o mundo lá fora e que o mundo era grande demais para caber dentro dela. Mas assim, de forma diminuta, a vida era tão mais simples. Senti uma saudade gigante de ser filhote e, naquele momento, fui filhote através de Pessoa e voltei no tempo e percebi que o tempo é grande olhado de longe, mas é pequenino diante de nós.

Ass.: Borges, o gato.

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8 comentários em “De primogênito pra caçula

  1. Que texto lindo! Dá saudade mesmo dos tempos idos…
    Ás vezes “quero voltar, invisível, para dentro da barriga da mamãe…” 😉

  2. Ownnnn Borges, esse foi um dos textos mais emocionantes e sensíveis que você já escreveu!! E ver você junto com Pessoa me emociona ainda mais!

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