Dentre todos os textos, o texto

Fãs,

Dentre todos os textos, dentre todos eles: dos mais cotidianos ao mais extraordinário, eu queria escrever O Texto. Pois a angustia de aprender a escrever, sendo felino, é lidar com a imperfeição. Todo texto é imperfeito, incompleto, inacabado. Fosse perfeito, bastar-se-ia. Não haveria mais o que dizer, o que acrescentar, o que contrariar. Veja um gato. Um gato se basta. Ele não precisa de ferramentas para viver. O humano não. O humano precisa de diversas extensões, é inacabado, incompleto. A língua, o português, por exemplo, é humano, logo, imperfeito. Eu fico aqui, impacientando-me com esta imperfeição tão linda chamada escrita. Queria uma escrita realmente felina, perfeita, mas em quase um ano escrevendo, constato a impossibilidade. Me causa uma náusea olhar pra todas essas letrinhas do teclado e saber que ali estão todos os textos do mundo. Ali estão todos os textos do Machado de Assis, do Shakespeare, do meu xará argentino. Está também o texto perfeito, mas para isto eu preciso acertar a combinação. Passo o dia fazendo contas, calculando alucinadamente que sequência de letras pode desembocar no texto que é O Texto. Mas, quando estou próximo ao resultado, ao cálculo dos cálculos que leva a esta descoberta, desisto. Pois afinal, que vou mais escrever depois de escrever o texto perfeito?

Ass.: Borges, o gato.

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Em busca de um texto que seja O TEXTO.

 

21 comentários em “Dentre todos os textos, o texto

  1. Q lindo! Borginho, será que vc não quer fazer minha monografia pra pós-graduação?? rs Vc escreve tão bem…

  2. Você me deixou meio confusa, Borges. Mas seus textos SÃO perfeitos, pois felinos já conhecem a perfeição no momento que eles começam a criar vida dentro da barriguinha da mamãe!

  3. Que crônica linda! Fez-me lembrar o trabalho do escultor, que olha a pedra bruta e ali enxerga todas as possibilidades de uma obra de arte…

  4. Pra mim todos seus textos humanos Borgianos são perfeitos.
    É um prazer vir aqui e ler pela manhã seu blog ( ando dormindo cedo e não aguento esperar pra ler de madrugada rs).
    Não tenho muito jeito com palavras, mas escrevo de coração.
    Beijos!

  5. Filhote, perfeito é o que pode ser…

    A partir de agora, a mamãe vai participar mais do seu bloguinho nos comentários, tá?

    Não apronta muito por aí e cuida da sua irmã e do seu pai.

    Beijos

  6. Borginho, que vc consiga encontrar uma forma para escrever um texto perfeito, apesar de achar esse perfeito! Mesmo sendo o humano imperfeito.

  7. Borges, você é o meu gato-filósofo-poeta predileto, lugar ao qual chegou após o falecimento do meu amado Preto José, se bem que com ele quem mais falava era eu – ele apenas e sempre me escutava, em sua silente sabedoria…

    O momento agora é inverso: eu o escuto e aprendo, e o meu silêncio… oras o meu silêncio! Jamais será tão sábio quanto o falar de um gato. Afinal, sou humana!

    Lambeijos, fofinho da titia!

  8. Borges,

    O perfeito não precisa ser lógico. Não se pode querer que uma combinação de letras chegue a um resultado lógico assim como uma combinação de números o faz. A beleza da escrita consiste na surpresa: cada dia combinamos as letras de uma forma e cada dia é um caminho diferente. Até uma mesma palavra tem significados diferentes a cada dia, consoante a nossa vivência. Com os números não, o dois é sempre o dois, três mais três são sempre seis. Não queira a perfeição lógica dos números, Borginho, seu coração dá-se muito melhor com a perfeição ilógica e surpreendente das palavras.

    Lambeijos

  9. Borginho, tem uma crônica do Veríssimo que ele fala sobre um publicitário que criou o anúncio perfeito. Aí por isso ele passou o resto da vida sem conseguir criar mais nada, mas ficava na cadeira bebendo whisky com um sorriso no canto da boca. hahahah é o que vai acontecer se vc achar o texto perfeito! É melhor continuar curtindo a beleza da imperfeição! 🙂

  10. Continue com seus textos da maneira que você fizer, pois para todos nós, seus fãs, eles são o suficiente independente de perfeição!
    Obrigada por você existir.
    Bj!

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