Dia de criança

Fãs,

Há quase um ano estou vivendo em um quarto, um banheiro e uma varanda: na suíte imperial do castelo do tio Grey. Seria mentira se dissesse que não me afeiçoei em nada a este lugar. Gosto, não do castelo como um todo, mas de cada pó que há nesse quarto, das sacolas penduradas nos puxadores do armário, dos objetos ensacados que esperam sobre o armário um novo lar, das roupas dependuradas atrás da porta, do ventilador, dos micos que gritam próximo à varanda. Foi neste lugar que fiz meus dois anos de idade e fiz a minha festa de aniversário. Incrível como o tempo ora está tão longe, ora está tão perto, basta nos reposicionarmos de outro ângulo para ver a memória. E, enquanto eu pensava tudo isto, a voz de mamãe quebrou o silêncio:

– Oooow, Borginho, é dia das crianças!

– Eu sei, mamãe.

– Lembro tanto de você pequenininho…

– Claro que lembra, mamãe, tem dois anos só.

– Dois anos é muito.

– Depende, mamãe. Dois anos sendo um doente é muito, dois anos sendo um rico é pouco.

– Ai, Borginho, sem complexidades. Estou falando para você de como sinto saudade de você bebezinho, fofinho, sapequinha, ai, você era tão lindinho…

– Mamãe…

– Que foi, Borginho?

– Eu ainda sou lindo.

– Claro que é filho, mas você era… sabe… oww…. era… sabe?

– Não.

– Era pequeno!

– E daí?

– E daí que você gostava de brincar de coisas de gato pequeno!

– E daí?

– E daí que era mais fácil te pegar no colo, apertar, amassar!

– Aaah… que bom que cresci então!

– Ai, não fale isso. Você vai ser sempre meu bebê! Falando nisso, tive uma ideia.

– Não faço questão de saber, mamãe.

– Mas eu faço de contar.

Mamãe me agarrou pelas patas, deitou-se na cama, me colocou sobre as pernas dela e me levantou.

– Vamos brincar de montanha russa, filho!

– Quê?

– Montanha russa!

– Não, obrigado.

– Siiim.

Mamãe começou a me sacudir, a me jogar para um lado, para o outro. Eu miei alto, berrei. Mas Christie continuo a fingir que estava dormindo no tapetinho do banheiro, não me prestou socorros. Passei o começo de dia das crianças fingindo que um par de joelhos era um carrinho de montanha russa. Descobri que dia das crianças é o dia em que aos adultos é dada a permissão de virar crianças para brincar conosco que fomos imortalizados crianças.

Ass.: Borges, o gato – @borgesogato