Doente de sono

Fãs,

Tanto cacei as moscas que elas enviaram uma infiltrada pra me picar. Mamãe falou que é a tsé-tsé. Agora adoeço em dormir. Tem sono que é prêmio, você dorme pra se premiar, mas tem sono que parece doença, até dói dormir e não dormir dói ainda mais. Hoje, acordei e pensei assim: se eu não dormir vou morrer, mas se dormir também. Dormi deitado na cama, sobre o móvel do banheiro, sobre a pia, no colo da mamãe, na varanda, sobre a televisão, dormi sentado, acordado, dormi dormindo. Tenho dormido sem querer, como se não fosse um dormir, fosse apenas um esquecer de ficar acordado. Mamãe fala: “Filho, já comeu?”, “Mãe, quando eu acordar eu como.”, “Mas você tá acordado, filho.”, “Tô não mãe, tô só falando enquanto durmo.”

Papai disse que se eu continuar dormindo tanto vai me levar à veterinária, mas eu expliquei pra ele que a mosquinha tinha me picado e era inevitável, igual a um cupido quando flecha a gente de amor. Mas papai disse que não, que aqui não tem tsé-tsé que isso é picada de frio, flecha de gelo que congela nossa disposição. Pois pode ser, meu casaquinho natural nunca foi tão útil, pois é como um edredonzinho prontinho pra me cobrir em qualquer momento que eu durma. E sempre confortável, quentinho, gostoso, sempre aconchegado pelo meu próprio pelo, minha própria pele, me sinto abraçado por mim e os ventos de fins de abril só batem fresquinhos e sonolentos como se fossem um ar condicionado me acarinhando pra dormir.

Ass.: Borges, o gato – @borgesogato