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Eu nunca fui ontem o que serei amanhã

Gosto de ser assim: acordo, dou um ou dois bocejos, espreguiço-me na cama, olho fundo nos olhos da minha irmã e lhe digo uma frase qualquer que venha à cabeça, desde que pareça profunda e digna de ser escrita em um livro. Hoje lhe falei: “Eu nunca fui ontem o que serei amanhã!”

Acho que os filósofos humanos são assim, antes estetas que filósofos. Primeiro eles dizem as frases, se sabem bonitas, buscam justificá-las.  Creio que foi assim com todos. Pensemos no velho Sócrates: com certeza fez como eu: acordou um dia, deu um ou dois bocejos, espreguiçou-se e falou: “só sei que nada sei, mesmo assim não tenho certeza.” Achou a frase bonita, depois buscou justificá-la intelectualmente, um argumento que pudesse convencer aqueles ao seu redor. Digo, assim, que toda filosofia é um sofisma, até mesmo a socrática que se diz a mais antisofista das filosofias.  Por isto que me dou melhor com os poetas, eles apenas dizem, está lá escrito, e não justificam nada. Se encontrou ouvidos encontrou;  se não encontrou, se foi. Nesta manhã, Christie me perguntou: “o que você quis dizer com isso, Borginho?” E eu deixei pra lá e não inventei sentido algum, apenas disse: “nada.” E ela me respondeu: “mas foi bonito.” Sorri.

Ass.: Borges, o gato – @borgesogato

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Olhando nos olhos da Christie
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Christie: olhos de ressaca

 

 

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