Nãossecomessó

Fãs,

“Não se come só”, a frase que soa engraçada quando repetida 500 vezes seguidas, com seus “esses” que emendam, parece que formam uma só palavra, nãossecomessó, era comumente repetida pela bisavó de minha bisavó paterna em regiões remotas e repletas de oliveiras em Portugal. Segundo a velha, quando um se punha a comer o outro tinha que se pôr junto, independentemente do que estivesse a fazer. O fato que era normal à época, seria um problema humano hoje em dia. Imagine que você está vendo seu programa favorito e alguém resolve comer. Imagine se você está trabalhando e alguém resolve comer. Imagine se você está tomando banho e alguém resolve comer. Pois era assim. Circula pela família que o avô de meu bisavô morreu de tanto comer após ter ido à casa de uma tia que estava a comer e ter-lhe dito “nãssecomessó”. Depois, foi visitar uma prima e ela também estava comendo e lhe disse “nãssecomessó” e quando chegou diante do secretário de seu senhor, ele estava almoçando e disse “nãossecomessó”. Este homem não contava com o azar de ter que voltar pra casa e encontrar sua esposa diante de um imenso frango feito especialmente para comemorar as bem-aventuranças da vida: “nãssecomessó”. Diz-se que este patriarca da família morreu de indigestão. Sorte é que Christie e eu mantemos a tradição até hoje, mas somos apenas dois que nunca esbarramos com outros gatos comilões. Então, quando eu como, Christie come. Quando Christie come, eu como. E se ela dorme, eu como, ela acorda e come. E se durmo, ela come, eu acordo e como. E assim vamos sempre acompanhando um ao outro, pois a refeição é sagrada e a expressão “nãossecomessó” é uma tradição familiar de muitos séculos que quiçá já tenha se tornado tão tradicional quanto a refeição.

Ass.: Borges, o gato – @borgesogato