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O que é um bom texto?

Fãs,

Vejo que para a maioria dos leitores, um bom texto depende mais da assinatura dele do que do texto em si. Curioso é que após deslizarmos os olhos por milhares de palavras, geralmente só restem as duas finais: “Pablo Neruda”, “Julio Cortazar”, “Octavio Paz”. A prova disso é que com a internet, canso de ver coisas do tipo: “Se você é feliz ou triste, não importa, seja feliz. Pablo Neruda” ou “Em cada esquina que eu vou é uma esquina ida. Clarice Lispector”.  Acho a brincadeira da troca de nomes bem divertida, mas serve também para provar a tese de que a assinatura vale mais. Fico imaginando, inclusive, como é para os editores, já que muitos deles são os que menos sabem de livros. Imagino chegando um desconhecido Camões e dizendo: “quero publicar isto aqui!”, “ai meu filho, essas coisa de armas e barões assinalados não, ninguém vai ler este poema imenso”. Chegando o mesmo Camões, só que agora sujeito famoso: “Claro, grande Camões, que honra ter seu texto aqui!” Assim seguem infinitamente as rodinhas dos escritores, chega a Maria com um poema: “Redundência redunda redundante redundantemente redunda”, “Nossa, que texto chato, repetitivo, que palavras tolas, feias!” Chega o Ferreira Gullar e fala a mesma coisa: “Nossa, que genial, ele mostra como as palavras ao se repetirem causam a própria redundância dita pelo texto que é uma redundância sonora também e não é assim com a vida, esta eterna redundância? Bravo! Bravíssimo!” Diante de todas estas coisas, diante todas estas questões, diante de tantas problemáticas, diante desta cumplicidade entre leitores, críticos, editores, acho que o mais importante no texto talvez tenha sido esta ficção que inventamos de que existem autores bons e autores ruins, de que existem textos bons e textos ruins. Quando na verdade, aos olhos do leitor e do próprio autor, bom e ruim me parecem conceitos tão relativos e tão fluidos.

Ass.: Borges, o gato – @borgesogato

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