O véu

 E eis que o véu do santuário se rasgou em dois, de alto a baixo; a terra tremeu, as pedras se fenderam, os sepulcros se abriram, e muitos corpos de santos que tinham dormido foram ressuscitados; e, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos.” (Mt 27, 50-53)

Fãs,

Diz-se que, com a morte de Jesus, o espaço mais sacro do santuário voltou a ser de todos. Pois Cristo rasgou o véu que o separava do povo. A noiva, no casamento, também usa véu. Uns dizem que por sinal de pureza, outros de riqueza, outros dizem que apenas para esconder a cara da noiva para que o noivo não desistisse do casamento. Maria, mãe de Jesus, tinha véu. As santas, de forma geral, têm véu. Santo significa separado, assim como o véu separa do marido, assim como o véu separava o espaço sagrado dos fiéis. Há dias que quero interagir, há dias que quero estar no colo dos humanos. Porém, há dias que quero estar no antigo véu, quero estar no espaço mais sagrado, quero ser santo: viver sem ser encostado, apertado, viver sem vozes humanas me enchendo. Neste sábado, enfiei-me atrás de um véu e me recolhi. Depois dormi, dormi com os anjos, como dizem. E, de noite, só de noite, rasguei o véu, joguei-me no braço de um humano e refiz minha comunhão com o mundo.

Ass.: Borges, o gato – @borgesogato