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Os sujos

Macbeth quer lavar suas mãos sujas de sangue do assassinado rei, mas constata que nem toda água dos mares do deus Netuno poderia limpá-las. –  Li em Shakespeare.

Os humanos são obcecados por banho. Não digo banho para limpar pontualmente o que é sujo, como nós gatos tomamos quando nos lambemos, digo a obsessão por água. Humanos chegam a tomar três banhos ao dia, se distraem em piscinas e praias. Teorizo que, como Macbeth, querem, de fato, é lavar a alma, apagar os crimes que cometem cotidianamente contra o mundo. Esfregam-se até arrancar toda a pele, usam buchas, passam xampus, sabonetes especiais. Cremes para limpar os crimes. Mas continuam sujos. Formam a única espécie capaz de sujar o planeta… tão limpos são.

Sou capaz de passar horas olhando a incrível máquina de fazer chuva chamada chuveiro. Saem dali perfumados, cheirosos, ou seja, negam sua própria essência. Humanos não suportam cheiros de humanos, não suportam sequer os seus próprios. Seus sovacos, seus chulés, seus puns são detestados, devem ser negados: “foi ele quem peidou, não fui eu!”, “Ai, vou passar um desodorante que o cecê tá fogo”. Disfarces: xampus, cremes, desodorantes. Mas a cobertura cheirosa esconde tanto fedor…

Os humanos são, com todos os seus artifícios, mais cheirosos que as flores. Mas o que será que perfumará a alma do homem?

Ass.: Borges, o gato – @borgesogato

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8 comentários em “Os sujos

  1. Verdade, Borginho, negamos a própria essência, o que haverá por trás de se tentar esconder tanta “sovaqueira”, “chulé” e o pior de todos – cabelo sujo. Sempre muito filósofo, Laka de patinhas.

  2. Olá! Ando afastada da internet por motivos de trabalho, e hoje consegui ler este texto. incrível, muito bom, parabéns!
    Muito Borges!

  3. Belo texto Borginho,nem nós nos aguentamos, não suportamos nem nosso próprio cheiro…Ai humanos, somos tão problemáticos!!

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