Peças da linguagem

Fãs,

Pessoa e eu na janela. Daqui de cima víamos os gatos passar lá embaixo: a gata gorda tricolor, o bigode, a gata escaminha da igreja.

– Eles são legais, né, Borginho? – me disse Pessoa, entusiasmada.

– Não sei, Pessoa. Nunca falei com eles.

– Ah, mas eu já. De noite, eu fico de cio daqui, a escaminha de cio de lá e reclamamos do sofrimento que é essa vida de gata que ainda não foi castrada e fica querendo se acasalar com a lua.

– Nossa… estou até comovido com tanto sofrimento.

– Olha, mas eu preciso te contar um segredo que ela me falou…

– Pois conte logo.

Pessoa se aproximou e disse baixinho:

– A escaminha te acha lindo.

Confesso que tomei um susto, fiquei trêmulo, não sabia o que fazer.

– Como você sabe isso, Pessoa?

– Um dia eu miei pra ela: sabia que eu tenho um irmão famoso? E ela nem pestanejou: Sim, sei, ele é um gato.

Recuperei meu fôlego, parei de tremer e olhei torto para Pessoa:

– Acho que não foi bem isso que ela quis dizer…

Ass.: Borges, o gato – @borgesogato