Fãs,
Em filhote eu sonhava em ser um gato manco. Sonhava que, se fosse assim, todos se compadeceriam e quereriam me adotar. Ao olharem pra ninhada de gatos abandonados, muito parecidos, veriam o gato torto subindo as paredes. Lá vai o gatinho torto, diriam. Eu seria um destaque, a própria sagração do eu.
Em adolescente, eu queria construir um furo no sofá, embora eu soubesse que um furo no sofá é uma desconstrução. Minha ideia era fazer alguma coisa que abrigasse o abandono, pois o abandono era um gato no beco, um gato na mata, uma ninhada inteira na casa de um qualquer.
Em adulto, eu tentei ser um poeta que não tinha como ser, um bocó de neologismos, um avesso de mim. Quis provar que tudo que era inventado era falso, embora isto não fosse uma invenção. Eu quis ser um poeta de 97 anos em um corpo de gato, um avô que habitava as árvores. Nesse passeio pelo meu pantanal em forma de apartamento, percebi que há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Ao bocó que não fui, Manoel de Barros, que hoje se encontrou com o Nada.
19 de dezembro de 1916 – 13 de novembro de 2014
Ass.: Borges, o gato – @borgesogato



Repetir é um dom do estilo.” (Manoel de Barros)
Ah, Borginho… Que linda homenagem ao nosso querido Manoel de Barros. Me emocionei aqui.
Gratidão sempre pelos seus textos.
Lambeijos na ponta do seu nariz e outro na pontinha do nariz da linda Christie.
Lindo… <3
Borges, tenho uma confissão a fazer: não conhecia esse autor, aliás não conheço, mas graças a seu texto estou curiosa para conhecê-lo, apesar de sua passagem. Valeu!
Lindo demais Borginho!