Fãs,
Quando comecei a escrever, sem jeito, sem rumo, sem arte qualquer, eu colocava uma palavra após a outra, achando que as frases eram ingênuas e que a palavra nunca poderia ser má. Era uma criança que, como todo filho, achava que seus pais eram heróis. Eu era filho das palavras, palavras das músicas que mamãe cantava pra mim, palavras dos contos que papai lia antes de eu dormir. Com o tempo, a palavra foi perdendo qualquer ingenuidade. Aprendi que escrever é muito além de enfileirar palavras. Escrever é excluir. Quando escrevo uma frase, deixo todas as outras palavras do vocabulário de fora. Queimo dicionários em prol do que acho que deva ser dito naquela hora. Se escrevo: “Meus olhos refletem espelhos” Escolhi falar dos olhos, escolhi falar de espelhos. Escolhi que a ordem deles na linha seria esta, pois eu poderia ter dito que espelhos refletem meus olhos. Deixei de falar dos armários, dos fãs, deixei de falar da morte. Poucas palavras sobrevivem a uma frase, este texto que vocês leem é o coletivo de palavras remanescentes que sobreviveram à ditadura de meu teclado.
Cada dia, conheço novos leitores e muitos sequer conheço. Todo texto na internet é como aquelas românticas garrafas de filmes que as pessoas jogam ao mar com um pedido de socorro ao estarem em uma ilha deserta. Diariamente jogo garrafinhas com pedidos de socorro neste mar virtual, pois todo texto é um pedido de redenção: achem bela esta chacina que promovi de palavras. No mar internet, pode-se aventurar na utopia da democracia textual: os meus leitores falam, conversam, dão ideias e meus textos vão sendo construídos sobre as edificações deles. É como uma grande favela, um barraco vai sendo construído sobre o outro e no final temos aquela obra monumental: um morro de casinhas frágeis. Pois as palavras são assim, são casinhas sem reboco que qualquer vento as derruba. As palavras até parecem fortes, há palavras que parecem um Coliseu, duram desde a antiguidade. Mas, se olharmos bem, veremos que não. Que o Coliseu não é mais o Coliseu. O Coliseu não tem mais gladiadores, leões, prisioneiros para que sejam devorados. O Coliseu é um ponto turístico e nem muito glamour tem. Minhas palavras talvez sejam assim: hoje lutam, enfrentem leões, matam prisioneiros, talvez amanhã sejam pontos turísticos. Não sei o que é pior, o que é melhor. Cada coisa à sua época. Pois, ao final de tudo isto, depois de todo o trabalho para construir, depois das escolhas, depois de matar várias palavras, descubro que o leitor tem um poder ainda maior: é ele quem diz: favela é um lugar insalubre ou favela é um ponto turístico. Todas os calos nas minhas almofadinhas batendo sobre o teclado, todos os pelos que estão grudados no monitor, toda hora de sono que não foi dormida, será interpretada por olhos que não são meus.
Ass.: Borges, o gato
Lindo texto Borginho!!! me emocionou muito!! 🙂
Ah, Borginho … seus textos/edificações vão além da poesia, da matéria… São felinos demais pra humanidade. Por isso há urgência na Gatidade! Por isso mergulhamos, como fãs, cada dia mais, nessa sua deliciosa felinidade… bjs mil… <3
Poxa Borges,vc nasceu pra escrever mesmo. Que texto mais cheio de sentimento, de aflição -não sei.
De fato seus textos tocam fundo os fãs, emocionam,alegram, nos fazem mais felinos. Tem algo melhor???
Além de todas essas emoções e conhecimento do mundo felino que adquirimos com nossas leituras diárias de seu blog, ainda podemos conhecer outros fãs, que talvez, venham ler seu blog pelo mesmo motivo que eu.. Começamos uma família, com quase 23 mil membros.
Eu me orgulho de ser uma de suas inúmeras tias, uma tia que talvez não interaja tanto quanto gostaria, mas sou uma tia que acorda e vai dormir pensando em vc, em sua irmã, no tio Grey; até na mamãe e no papai! Também guardo uma carinhosa lembrança de algumas outras tantas tias e tios dessa ENOOORME e Linda família <3
Borginho,saiba que vc,sua irmã e seu tio compartilham o mesmo espaço que meus filhos felinos tem no meu coração!!
Lambeijo bem gostoso na família e um carinhoso beijo nas tias e tios…! =*