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Sorriso forçado

– Sorria, filho! Você é uma celebridade.

Foi assim que mamãe me acordou neste domingo. Não sei quem disse a ela que celebridade tem que sorrir. O Zangado da Branca de Neve também é uma celebridade e nem por isto sorri. Sorrir sem vontade é incompreensível, só um humano é capaz. Deve fazer tão mal quanto ficar sempre emburrado. O “sempre” sempre faz mal.

– Mas filho, você tem 60.000 fãs, tem que ser simpático com eles.

– Mamãe, eles que vão ser fãs da Xuxa então.

– Deixa de ser mal humorado, Borges. Depois vão achar que você ficou grosso porque ficou famoso.

– Não, mãe! Eu estou ficando grosso porque estou comendo muita ração.

– Tá bom, tá bom… então sorria.

– Não, não agora.

– Aaaahhh… agora, filho.

Mamãe puxava meus bigodes me fazendo sorrir. Mas era um sorriso artificial, enquanto minha boca sorria, minha alma lhe fazia fuuuz infinitos. Christinha, deitada no colo do papai, ria da minha cara.

– Viu, Borginho, a Cristinha tá rindo.

Papai começou a rir também.

– Viu, Borginho, papai também tá rindo. Só você que não.

Ah, fãs. Esta vida de fama é pior do que aquilo que jogo areia em cima. Agora querem que eu viva sorrindo, amanhã quererão que eu os saúde, depois quererão que eu cumprimente todos os fãs que farão uma fila, depois quererão que eu dê autógrafos, depois quererão que eu faça caridades, depois quererão que eu salve o mundo, depois quererão que eu morra pela espécie humana, depois quererão que eu ressuscite no terceiro dia. Pois esqueçam, fãs. Morto eu, não volto mais, descansarei e não darei tchauzinhos, não mandarei lambeijinhos, não quero ser canonizado, nem nada disso. Que situação lastimosa! A gente começa a escrever, constrói uma literatura felina e depois o que fazem? Pegam o autor, no caso eu, para ser mais importante que a própria obra. E aí não importa o que eu escreva, querem é lambeijinhos, coraçõezinhos o tempo todo, autógrafos e sorrisinhos! E quando eu estou dormindo apenas minhas 16 horinhas de sono, ainda dizem: nossa que antipático, ele dorme sem sorrir. E se isso começa na minha própria casa, vindo de minha própria mãe cujas tetas mamei, ah, não, foi um lapso, nestas tetas eu não mamei… huuummm… na mãe em que pãozinho amassei (agora sim!), imaginem, imaginem os da rua. Me desculpem, mas apesar da fama, pretendo continuar sorrindo só quando eu tiver vontade. Não é agora, mas talvez seja daqui a pouco se alguém abrir um pacote de sachê.

Ass.: Borges, o gato – @borgesogato

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14 comentários em “Sorriso forçado

  1. É isso aí Borginho! Ficar sorrindo igual um bobo alegre só porque é famoso é um saco! Seja sempre vc mesmo, ainda que vc mesmo esteja de mau humor. Sorria quando seu sorriso vier da alma!
    Bjs!

  2. Eu so desejo que vc continue a escrever, mas so dps de dormir muuuuuuuuito, comer e brincar com a Christie, desejando sempre q meus sorrisos (e, as vezes, lagrimas) q nascem com aquilo q tu escreves te ilumine!

  3. kkkkkk Ai, Borginho, sua obra é ímpar – a literatura felina Borgiana é ímpar! Realmente, só humanos pra sorrir sem vontade… como somos tolos! Temos muito a aprender com vc. E sua obra é o canal pra esse aprendizado! <3

  4. NOSSA BORGINHO , VOCÊ É MESMO MUITO CRIATIVO , SORRINDO OU NÃO , GOSTO DE VOCÊ DO MESMO GEITO…

  5. Nossa Borginho…
    60.000 fãs….
    Ainda outro dia lembro que comemorei seus 17.000 fãs…
    É simplesmente fantástico ver tanta gente unida ao redor da mesma causa, no caso, os felinos…
    Parabéns viu, seu marrentinho!!!
    😉

  6. Vc pode até não sorrir tanto mas com certeza me faz sorrir demais.. Teus textos sempre com uma pitada de humor alegra o dia de qualquer um!! Ria quando der vontade, mas lembre-se que a felicidade está nas coisas minimas da vida!!!
    Lambeijos

  7. Dentição perfeita!
    Nada de doença periodontal, nenhum indício de gengivite….
    Mostre seus dentes, seu LYMDU! Seja exemplo pros seus súditos!

  8. Ai que horror, Borginho! Não está na hora de um clareamento dental? rs….
    Fora isso, não custa nada ser simpático com os fãs, não?
    Coisa feia ficar famoso e esnobe!
    Bijocas da tia Rô

  9. Arrasou no texto Borginho. Sorrir quando se tem vontade.
    Por isso que sempre volto por aqui para sorrir com tamanha espontaneidade.
    Beijo lindo!

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