No começo, eu saltava por campos de catnip que balançavam ao vento com um cheirinho de atum. De repente, fez-se noite. Eram nuvens imensas repletas de água. Eu corria para um lado, corria para o outro. Tentei me abrigar debaixo de um pé de sachê de carne, mas ele simplesmente murchou. Começaram trovões altos, muito altos, mais altos que fogos de réveillon. Era evidente que em poucos segundos ia cair um dilúvio. Christie apareceu em cima de uma pedra imensa, ela gritava: Borginhooooooooooo, Borginhooooooooooo… eu tentava subir, mas não a alcançava. Mario Grey apareceu ao lado dela e falou: deixe-o aí, precisamos ir. E se foram. As nuvens estavam quase encostando em minhas orelhas de tão pesadas. Decidi me afastar da pedra e ir na outra direção. Surgiram na minha frente 132 ratos bípedes (eu sei porque rapidamente contei). Eles estavam fortemente armados: uns carregavam spray de água, outros secadores de cabelo, outros aspiradores de pó. Comunicaram que queriam me devorar. Eu ajoelhei diante deles e disse que nunca tinha comido um ratinho sequer, que não fizessem isso. Eles falaram que não interessava, que eu estava pagando pela minha espécie. Surgiu, então, uma horda de 3 bilhões de mosquitos (eu sei porque contei) e chupou todo o sangue dos ratos exatamente ali na minha frente. Respirei aliviado: “Não tenho como agradecê-los!” E eles me disseram: “Não há porque agradecer, você é o próximo e sabemos que mosquitos você já devorou muitos!”
Nesta hora acordei. Christie roncava como um velho constipado. Papai estava dormindo normalmente, com sua tradicional roupa de mendigo. Mamãe estava ali, como uma princesa, dormindo de braços abertos como se fosse para me receber. Deitei sobre ela e ronronei. Acho que nunca mais comerei mosquitos, causam má digestão e pesadelos terríveis.
Ass.: Borges, o gato – @borgesogato


