Fã,
Se, um dia, eu encontrasse comigo mesmo, teria a certeza que não seria eu. Se em quatro esquinas esbarrasse comigo, diria: és outro. Pois para que eu seja é necessário ser-me. Desta maneira, não há eu que não esteja em mim. Pensa em ti. Se há alguém que fica por dois segundos extra você, este você não é você, é outro. Eu me reconheço, pois sei que não posso ser-me sem meu corpo. Sou pleno em mim e excetuando comida e água, tudo que preciso carrego comigo. Já deixei muitos para trás, mas tampouco estes eram eu. Se ao longo da vida trocamos todas as células do nosso corpo, elas já não me são mais, são outra coisa além de mim. Talvez elas até te sejam, mas não eu. Repara que se encostas agora em dois ou três pelos meus, falaria a todos: “encostei no Borges.” Porém, se estes mesmos pelos caem no chão e os catas, não falarias mais assim, dirias: “encostei nos pelos do Borges.” Se arranho tua perna, dizes: “você me arranhou”, mas se perdes uma perna em um acidente, não dizes: “perdi-me”, dizes: “lá se foi a minha perna.” Ela não era mais você. Pois tudo que és, és. Não és nada externo a ti. Ou melhor, falo por mim: “não sou nada externo a mim” e se me vejo nessas esquinas da vida, diria: “esse não sou eu, é outro” Não me vejo nem em espelhos, só há eu em mim.
Ass.: Borges, o gato – @borgesogato
Borges, uau… Texto para pós-graduação em Filosofia.
😮 vou ficar pensando nisso o dia todo…
Putz.
Saiu fumacinha da minha cabeça agora….
😛
Eu só sei Borges que eu ainda não sou eu.
Talvez você também não. ; )