“Um gato”, falou um macaco

Fãs,

Pela manhã, veio o macaco, novamente, em direção à minha janela. Eu ainda estava com sono e não me animei muito em sair do sofá para falar com ele. Porém, o sujeito olhava pra dentro de minha casa. E, de repente, soltou uma assim:

– Você é um gato!

Tomei um susto, confesso. Não esperava que ele fosse puxar assunto e, o mais estranho, foi a forma como falou, não como quem diz você é um gato, um cachorro, um sofá, um humano. Disse num tom diferente, de uma forma cafajestosa.

– Ei, eu ouvi isso – lhe falei!

E o doido do macaco repetiu, dando certa desmunhecada na sua voz:

– Você é um gato!

– Claro que sou um gato! Sou Borges, o gato.

E ele, como se não tivesse dado a mínima para minha fala, continuou me olhando, se coçando e piscando os olhos pra mim:

– Você é um gato.

Respondi-lhe que conhecia a fama dos macacos, que não estava nem um pouco interessado em ficar ali lhe dando papo. Porém, ele começou a assobiar chamando outro macaco. E, de fato, outro apareceu.

– É um gato!

– Huuum… um gato mesmo, um gatinho.

O tom da conversa começava a me perturbar. E eles começaram a saltar e a repetir: “é um gato!”, “nossa, que gato!” Nisso chegou o terceiro macaco, o quarto marcado e o quinto macaco. E eu já lhes miava e fazia fuzzzz irritado. O quinto, então, resolveu mudar o tom da conversa: “Não, não é um gato!”

– Não? – disseram todos os outros em uníssono.

– Não!! – Reafirmou o quinto macaco.

E eu, nervoso, disse:

– Claro que sou um gato! Claro que sou!

Os macacos começaram a saltar e a repetir: “Não é um gato!”, “Não é um gato!”

Eu miava: “Claro que sou um gato!”, “Sou um gato, sim!”

Assim como chegaram, foram embora. Porém iam espalhando pela floresta: “Não é um gato! Não é um gato!”

E fiquei ali, atrás da tela de proteção, vendo um por um indo embora.

Ass.: Borges, o gato – @borgesogato